sábado, 2 de abril de 2011

...Tempo de Matar...




Uma tragédia sangrenta – o cruel estupro de uma menina negra por dois homens brancos e embriagados – choca a população da pequena Clanton, no Mississipi, no Sul dos Estados Unidos, apesar da significativa maioria branca. A posterior vingança do pai da vítima, no entanto, divide a opinião pública entre os que apóiam o ato extremado em nome da filha e os que admitem que um grupo de negros acabe, em hipótese alguma, com a vida de um branco.

O drama transforma a cidade num ponto de atração para repórteres, fotógrafos e cinegrafistas de todo o país. Em meio a todo espetáculo da mídia e toda gente querendo aparecer – policiais, advogados, promotores, juízes e lideranças radicais -, eis um desafio pelo qual Jack Brigance, um jovem e competente advogado, sente-se irremediavelmente atraído: defender um homem negro que resolveu fazer justiça com as próprias mãos.

À frente do caso, Brigance quase perde a mulher, vê sua casa ser incendiada, o marido de sua secretária ser espancado, sua estagiária sofrer um atentado e seu segurança ficar paralítico por causa de um tiro destinado a ele. Os ataques da Klu Klux Klan, porém, não o intimidam, afinal, o racismo não pode sobrepujar um pai.

Tempo de matar é o primeiro livro de Jonh Grisham e, entre todos, o mais autobiográfico, segundo o próprio autor. O titulo foi adaptado com o sucesso para as telas, trazendo Samuel L. Jackson no papel de Cal Lee Hailey, o negro que lavou a honra e a dor da filha com sangue.

>>M.H.

...3096 dias...


“Agora me sinto forte o bastante para contar a história do meu seqüestro”.


“Meu cativeiro é algo com que vou ter de lidar durante toda a minha vida, mas, aos poucos, acredito que não serei mais dominada por ele. Ele é parte de mim, mas não é tudo. [...] Ao escrever este relato, tentei encerar o capítulo mais longo e sombrio de minha vida. Sinto-me aliviada, porque pude encontrar palavras para o que considero indescritível e contraditório”.




Natascha Kampusch sofreu o destino mais terrível que poderia ocorrer a uma criança: em 2 de março de 1998, aos 10 anos, foi seqüestrada a caminho da escola. O seqüestrador – o engenheiro de telecomunicações Wolfgang Priklopil – a manteve prisioneira em um cativeiro no porão durante 3.096 dias.

Nesse período, ela foi submetida a todo tipo de abuso físico e psicológico e precisou encontrar forças dentro de si para não se entregar ao desespero.

Agora, pela primeira vez, Natascha Kampusch fala abertamente sobre o seqüestro, o período no cativeiro, seu relacionamento com o seqüestrador e, sobretudo, como conseguiu escapar do inferno, permitindo ao leitor compreender os processos de transformação psicológica pelos quais uma pessoa mantida em cativeiro, sofrendo todo tipo de agressão física e mental imaginável.

>>M.H.

quarta-feira, 12 de janeiro de 2011

...Hamlet...


Já afirmou Harold Bloom, talvez o maior especialista em Shakespeare vivo, que a peça Hamlet é nada mais nada mesmo que um “poema ilimitado”. Ilimitado em sua beleza, magia e profundidade. Trata-se de uma das obras que toda pessoa, que após atingir a maturidade deveria, em algum momento, se sentar e ler com atenção. Confidencio aqui o valor especial que tal texto tem para mim. Anualmente, sempre nos momentos mais sombrios de minha vida, quando tudo parece mais cinza que o normal, quando bate aquela vontade de ficar quieto, a sós, quando agonizamos a existem do ser que somos, nossos dilemas e sofrimentos, nossos lamentos e o preços de nossas escolhas, quando tudo parece terminar numa encruzilha dantesca, volto-me para Hamlet. E ao mergulhar em suas páginas, tal como a fênix, aprendi a me renovar. Na verdade encontram-se ali as indagações de toda nossa existência – mas atenção, eu disse indagações, não respostas! Pois assim como ilimitado é o poema, múltiplas são as formas como cada um achará as soluções para os quebra-cabeças e charadas que as vida nos impõem. Pois assim é Hamlet! Chamado pelo espírito de seu pai para aplacar as fúrias da vingança contra aqueles que o assassinou, o jovem príncipe da Dinamarca se questiona – e quem nunca assim o fez? – por quê? Por que dentre todas as pessoas do mundo é dele o fardo de colocar o mesmo mundo de volta ao eixos, fazer justiça (ou vingança) e reestabelecer a ordem natural das coisas? Não é um fardo pesado demais? Ora, de fato, o é para Hamlet, como qualquer um de nós. Todavia, entre o dilema de “ser” ele – ou “não ser” – o responsável, ela opta por “deixar ser” arquitetando uma maquiavélica vingança contra os principais nomes da Dinamarca (o que inclui o atual Rei, sua mãe e seus comparsas). É a partir daí que a peça ganha desenvolvimento. Também é fato que é a partir de Hamlet que a literatura descobriu o humano; isto é, trata-se do primeiro texto no qual um personagem expõe a sua audiência os seus pensamentos, nos tornando cumplices de toda a trama e toda a tragédia. Ao todo momento o maior interlocutor de Hamlet e o único a conhecer suas reais intenções, somos nós, seus leitores/ouvintes/confidentes. Outra grande maravilha do texto, é que se trata se uma peça dentro de muitas peças (e não foi mesmo Shakespeare que afirmou que a “vida é um palco” – e por sua vez, Oscar Wilde emendou: “mas o elenco é péssimo!”). E é no interior dessa espiral que os fatos de desenrolam desencadeando uma avalanche de acontecimentos que marcam a Tragédia, que não polpa nem Hamlet, nem sua amada (?) Ofélia. Interessante é que a todo momento, vemos Hamlet se desenvolver e amadurecer. De príncipe herdeiro, quase um neófito nos assuntos da política e da vida do Estado, a se tornar um estrategista com um humor e uma astúcia ímpar na literatura. Curioso, é claro, está no fato de que o único a empatar em inteligência com jovem seja o humilde, mas não menos sarcástico coveiro. Também se deve chamar a atenção, como faz Bloom, para as múltiplas interpretações que o personagem acabou recebendo: no clássico de Laurence Olivier (1948), é injustamente retratado, como também faz Nietzsche, como um indeciso, um vacilante; na montagem de Franco Zefirelli (1990), vemos alguém atormentado, quase insano – outra injustiça; apenas o Hamlet de Kenneth Branagh (1996) faz jus à complexidade do texto (até por respeitar toda a integridade do texto original). Fato é que ler/assistir a trama muitas e ilimitadas perguntas se abrem ao expectador mais atento. No fim, nós somos um pouco de Hamlet em nossas vidas. Somos as escolhas que fazemos e o preço que pagamos. Ser apenas mais um da audiência que vê o mundo sem coragem de assumir a “virtu” necessária para domar a roda da “fortuna” (destino) não é a opções daqueles que – como Hamlet – optam por serem agentes de transformação de uma realidade. Mas tudo tem seu preço, e estaremos dispostos a assumir a responsabilidade pelos atos que desencadeamos? Aqui reside a diferença entre Hamlet, por exemplo, de Romeu. Ser um “jogue do destino” - como este último em suas últimas palavras acaba se reconhecendo – não é a escolha (que nem de longe é mais fácil ou diferente em resultados, mas isso é outra história) de nosso (anti)herói. Ele opta pela autenticidade, e isso o faz único, o faz humano. O que me lembra Eddie Vedder (do Pearl Jam): “I know I was born and I know that I'll die / The in between is mine / I am mine”.

>>Enviado pelo seguidor Pedron