quinta-feira, 23 de setembro de 2010

...O Homem como Idéia e Realidade...


No sétimo livro da República, Platão criou uma alegoria – hoje célebre e sempre citada – a que os filósofos denominam de Teoria das Formas ou idéias, e com a qual procurou demonstrar que vivemos num mundo de sombras e de aparências, que só pela reflexão é que podemos chegar à verdade ou à realidade das coisas.
O que vamos aqui escrever, nada tem que ver com as sutilezas de imaginação do genial filósofo de Atenas. Queremos apenas tentar compreender o dualismo de comportamento do ser humano, a maneira dual de agir do homem diante de si próprio e perante o seu mundo de relações.
Acreditamos que, até onde podemos chegar os conhecimentos do ser humano, nada nos afirma ser o homem o centro do universo. Apenas o personagem central de um drama em torno do qual vai se desenvolvendo a história de um minúsculo planeta perdido na imensidão do cosmo. Por isso, ao cruzar mais uma etapa do tempo, ele olha para o futuro e, inquieto, pergunta para si mesmo: Para onde vou?
Eu diria a resposta a essa indagação poderá ser encontrada naquele velho manuscrito dos Essênios, perdidos nas cavernas do Mar Morto, no qual alguém deixou escrito esta sentença: “O homem é um constante viajar solitário, cujo destino é um permanente combate entre a Luz e as Trevas”.
Evidentemente, esta é a história da humanidade. É com Luz, Sombras e Trevas que o homem constrói a sua história e a história do mundo. São com infinitos fragmentos do tempo que se constroem os dias, os anos, os séculos e os milênios. São com as grandes e pequenas idéias que se escreve a história da humanidade, esse grande livro em que cada povo vai registrando o seu próprio capítulo, assinalado por bons e maus momentos.
Ora praticando o bem, ora praticando o mal, o homem sempre esteve presente em todo os atos da sua história, seja pelo vigor de sua cultura, seja pelo espírito de rebeldia, de conquista e de domínio. E assim, criaram-se as civilizações, cujo “conceito não pode ser expresso por uma raça nem por um momento histórico isolado, mas por diferentes idéias que têm inspirado a humanidade em sua evolução, através do tempo e do espaço”.
A história dos homens sempre existiu na sua forma primitiva, como narrativa oral, transmitida pelo presente ao futuro. No entanto, só a partir do século IV a. C., quando alguém reuniu os fatos dignos de nota para escrever a história de uma época, é que surgiu o primeiro historiógrafo e com ele A História, esse grande capítulo, para que o futuro possa medir os limites da razão e dos sentimentos humanos.
Corresponde ao 1º capítulo do livro.
>>M.H.

...A Sobrevivência da Humanidade...



“Todos os homens de boa vontade, ou antes, todos os homens que amam a vida, devem formar uma frente única para a sobrevivência, para a continuação da vida e da civilização. Com todo o progresso cientifico e técnico que conseguiu, o homem acabará vencendo o problema da fome e da pobreza, e pode tentar soluções em sentidos diferentes. Há uma coisa, porem, que ele não pode – é continuar os preparativos para a guerra que, desta vez, levará à catástrofe. Ainda é tempo de prevermos nossa atitude. Mas se não agirmos logo, perderemos a iniciativa, e as circunstâncias, instituições e armas que criamos assumiram o controle da historia e decidiram nosso destino”.
Com estas cadentes palavras, Erich Fromm – o mais profundo estudioso da sociedade moderna – finaliza este grande e belo livro, no qual discute a tese de que o homem de nossos dias está num dilema entre o pensamento são e o pensamento paranóico em política internacional, entre a aniquilação representada pela super bomba e a possibilidade de paz que a razão ainda lhe aponta: a coexistência pacífica entre os dois blocos, combinada com o desarmamento universal controlado, que não é utópico nem irrealizável, como ele o demonstra exaustivamente, nesta magistral análise.
Dentro deste ponto de vista, examina em profundidade algum pontos de choque entre leste e oeste: o problema da China e a possibilidade de uma guerra provocada por erro humano ou mecânico, o destino da humanidade depois de uma guerra nuclear e vários outros tópicos de grande atualidade e extrema importância.
A psicanálise e a filosofia Marxista – dois agudos instrumentos de analise que Erich Fromm maneja brilhantemente – são aplicados ao estudo da situação mundial e contribui para tornar a leitura deste livro ainda mais fascinante.
>>M.H.

terça-feira, 7 de setembro de 2010

... John Steinbeck uma Biografia...


A vida de John Steinbeck, como é contada por Jay Parini nesta magnífica biografia, é digna da própria ficção de Steinbeck. Nascido em 1902, em uma pequena cidade ao norte da Califórnia, ele teve uma trajetória que reflete os altos e baixos deste século tumultuado.
Filho de um comerciante falido que se transformou em pequeno funcionário público, Steinbeck desde jovem se recusou a aceitar qualquer modelo. Assim, cavou valas e lavou pratos ao mesmo tempo que freqüentava a Universidade de Stanford, sem, contudo, conseguir se formar. O motivo: bebia demais e lia os livros errados – tipo eu hehe -. Lutou durante mais de uma década para se estabelecer como escritor, defendendo a qualidade de sua obra, embora os críticos da época o considerassem um sentimental.
Apesar disso, ele não pôde ser ignorado – foi um fenômeno, uma figura literária imbuída de um tipo de sabedoria que está presente na tradição americana, com raízes em Emerson e Whitman. Com sua visão poderosa das conseqüências da Depressão (tipo eu?), ele acabou desfrutando de um período extraordinário (o que não me aconteceu) de criatividade em livros como As vinhas da ira, Vidas amargas (tipo a minha kk) e Boêmios errantes, verdadeiros gritos de protesto que suscitaram indignação nacional e deram a Steinbeck sucesso mundial.
Jay Pairini também conta a historia das relações de amor e ódio de Steinbeck com Hollywood e a Broadway, e analisa suas amizades muitas vezes tempestuosas com inúmeros escritores, artistas, intelectuais e políticos célebres, de Charles Chaplin a Lyndon Johnson, de Ernest Hemingway a William Faulkner.Construindo a partir de entrevistas com dezenas de pessoas que conheceram Steinbeck intimamente, entre elas a mulher do escritor, Elaine Steinbeck, e baseado também em cartas – publicadas e inéditas -, diários e manuscritos, John Steinbeck é ao mesmo tempo uma revelação e um retrato fascinante de um dos maiores escritores do século. Quando John morreu em 1968, o último representante de uma geração de escritores americanos que incluía F. Scott Fitzgerald e Gertrude Stein, ele talvez fosse o escritor mais popular do mundo, embora sua reputação entre os críticos ainda não estivesse solidificada. O prêmio Nobel de Literatura, concedido em 1964, nada fez para apaziguar seus detratores, mas Steinbeck jamais perdeu a legião de admiradores que ainda hoje fazem seus livros venderem milhões de cópias em todo mundo.
>>M.H.

...Meu encontro com Marx e Freud...

Este novo e extraordinário livro é a autobiografia intelectual de Erich Fromm, onde o grande psicanalista explica os caminhos que o levaram ao encontro de Freud e Marx, esses dois gigantes do pensamento que – com Einstein – são os grandes arquitetos do mundo moderno.
O solo comum de onde brotou o pensamento de Marx e Freud é, em última análise, o conceito do humanismo e de humanidade que, remontando à tradição judaico-cristã e greco-romana, ingressou na história européia com a Renascença e desdobrou-se plenamente nos séculos XVIII e XIX: a realização do homem total, considerado como a possibilidade máxima do desenvolvimento natural.
A defesa de Freud faz dos direitos dos impulsos naturais do homem, contra a força da convenção social, bem como seu ideal de que a razão controle e contenha esses impulsos, é parte da tradição do humanismo. O protesto de Marx contra uma ordem social na qual o homem é alijado pela sua subserviência à economia, e seu ideal de plena realização do homem total e inalienado, é parte da mesma tradição humanista.
A visão de Freud foi limitada pela sua filosofia mecanicista e materialista, que interpretava as necessidades da natureza humana como essencialmente sexual. A visão de Marx era muito mais ampla, precisamente porque via o efeito pernicioso da sociedade de classes, e pôde assim ter uma visão do que seria o homem sem peias e suas possibilidades de seu desenvolvimento, quando a sociedade se tornasse totalmente humana.
Freud foi um reformador liberal. Marx um revolucionário radical. Embora diferentes, eles tem em comum um desejo incondicional de libertar o homem, uma fé igualmente incondicional na verdade como instrumento dessa libertação e a convicção de que a condição disso está na capacidade do homem romper as cadeias da ilusão.
>>M.H.