segunda-feira, 19 de julho de 2010

...Se um Viajante numa Noite de Inverno...


“Se um viajante numa noite de inverno” é uma obra do cubano – mas italiano de coração – Ítalo Calvino, conhecido na literatura mundial como o poeta do absurdo – ou, na verdade, um adepto do surrealismo literário; ele é um dos poucos que com a pena consegue se assemelhar às proezas de Dali no terreno das artes plásticas.

Nesse livro, originalmente publicado em 1979, Calvino escreve para e sobre aqueles que gostam de ler. Assumindo a audácia de escrever toda a história através de uma narração em segunda pessoa – e é isso mesmo, meus caros, 2ª pessoa! – dirige-se o tempo todo para o leitor, que é transformado no personagem principal. O livro, então, usa como recurso um leitor hipotético que ganha densidade em cada um de nós; ele não tem nome ou descrições, justamente para que possa se amoldar àquele que lê. Mas como isso é possível? Ora, Calvino desenvolve sua obra em diálogo com seu leitor (nós) através de frases como “agora você vai fazer isso...” ou “você adentra ao recinto e percebe dois homens olhando para você”. O imperativo e o tempo no presente são as chaves para dar a sensação de que se está lendo um livro em terceira dimensão.

Após um pouco desse diálogo entre autor e seu leitor hipotético, este descobre que o livro que tem nas mãos está incompleto, sem final. Voltando a livraria onde adquirira o exemplar descobre que todos os livros apresentam idêntico problema; e mais, outros livros estão embaralhados: o mercado literário foi inundado por obras com capítulos misturados entre si. O leitor terá agora um desafio, pois curioso para saber o fim da obra que tem nas mãos, terá se descobrir sua história nas páginas de outros livros. Com isso, Calvino abre as portas pelas quais nós somos transportados para uma trama na qual uma conspiração internacional pretende confundir os leitores de todo mundo. Mas qual seu propósito? Mistério...

Bem da verdade, o que o autor que é nos esbofetear com um livro desafiador enquanto faz ele mesmo uma crítica aos bestsellers que mais se parecem com novelas da Rede Globo – tão logo terminamos, já os esquecemos de lado. Aqui não, o livro nos inquieta e nos perturba, mas nos conduz compulsivamente para sua leitura página após página.
Enviado pelo seguidor Pedron. Obrigadooo
>>Decah

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